A identidade cultural na pós-modernidade


         Baseado no texto de Stuart Hall tivemos um seminário o qual se dividiu em duas aulas, nas quais trabalhamos e debatemos, mais uma vez, sobre o assunto de identidade cultural.
    Na primeira parte, Hall discute, em dois capítulos as mudanças nos conceitos de identidade e de sujeito mesclando teorias, concepções, reflexões e exemplos dele mesmo e de outros autores. 
      No capítulo inicial o autor afirma que as identidades modernas estão sendo descentralizadas e esta descentralização dos indivíduos, tanto de seu lugar no mundo social e cultural quanto de si mesmos, constitui uma crise de identidade. Também no decorrer do capítulo ele expõe três concepções de identidade do sujeito do Iluminismo, do sujeito sociológico e do sujeito pós-moderno. O primeiro tem a concepção da pessoa humana como indivíduo totalmente centrado, unificado, dotado das capacidades de razão, de consciência e de ação o que forma sua identidade; o segundo tem o sujeito formado pela relação com outras pessoas importantes para ele, que mediam para o sujeito os valores, sentidos e símbolos dos mundos que ele habita, ou seja, a identidade é formada na interação entre o eu e a sociedade; por fim o terceiro é conceitualizado como não tendo identidade fixa, essencial ou permanente, em suma, ele assume identidades diferentes em diferentes momentos que não são unificadas ao redor de um “eu” coerente. 
            Em seguida, o sociólogo diz que as sociedades modernas são sociedades de mudança constante, rápida e permanente; são caracterizadas, principalmente, pela forma altamente reflexiva da vida e que isso implica não apenas um rompimento impiedoso com toda qualquer condição precedente, mas define por um processo sem-fim de rupturas e fragmentações internas a própria modernidade sendo descentrada e deslocada. E por fim,o capítulo é encerrado com um exemplo concreto das definições de identidade e mudança: a indicação de Clarence Thomas a Suprema Corte americana em 1991. 

           O segundo capítulo é um esboço da descrição das principais mudanças na forma pelo qual o sujeito e a identidade são conceitualizados no pensamento moderno por alguns teóricos contemporâneos. O autor cita que, primeiramente, o nascimento do Individuo Soberano, conceito entre o Humanismo Renascentista do século XVI e o Iluminismo do século XVIII, representou uma ruptura importante com o passado, pois foi este o motor que colocou todo o sistema social da modernidade em movimento; e que a partir daí muitos movimentos importantes no pensamento e na cultura ocidentais contribuíram para a emergência desta nova concepção. Em seguida, segundo Hall, já com a concepção difundida, o surgimento das ciências sociais contribuíram bastante para as transformações da identidade cultural; sendo que cada ciência contribuiu com sua teoria assumindo, cada qual, uma forma disciplinar. 
          Stuart esboça neste capítulo cinco grandes avanços na teoria social e nas ciências humanas ocorridas no pensamento no período da pós-modernidade tardia. O primeiro refere-se às tradições do pensamento marxista que ao colocar as relações sociais e não uma noção abstrata de homem no centro de seu sistema teórico, deslocou duas proposições-chave da filosofia moderna: que há uma essência universal de homem e que essa essência é o atributo de cada indivíduo singular, o qual é seu sujeito real. O segundo é oriundo da descoberta do inconsciente por Freud, pois esta teoria afirma de que nossas identidades, nossa sexualidade e a estrutura de nossos desejos são formadas com base em processos psíquicos e simbólicos do inconsciente, que funciona de acordo com uma lógica muito diferente daquela da razão e que arrasa o conceito de sujeito cognoscente e racional provido de identidade fixa e unificada. O terceiro está associado com o trabalho do lingüista estrutural, Ferdinand de Saussure que argumentava que nós não somos, em nenhum momento sentido, os autores das afirmações que fazemos ou dos significados que expressamos na língua; pois esta é um sistema social e não um sistema individual, portanto ela preexiste a nós. O quarto ocorreu no trabalho do filósofo e historiador francês Michel Foucault que faz uma descrição do caráter abrangente dos regimes disciplinares do moderno poder administrativo para compreender o paradoxo de que, quando mais coletiva e organizada a natureza das instituições da modernidade tardia, maior o isolamento, a vigilância e a individualização do sujeito individual. E por último, o quinto é o impacto do feminismo, tanto como uma crítica quanto como um movimento social, pois este apelou para a identidade social de seus sustentadores e ficaram como um dos exemplos mais fortes dos grupos com identidades culturais próprias ou individuais de cada uma das pessoas que os compôs. 
            Na segunda parte do livro Stuart desenvolve, em quatro capítulos, o argumento com relação a identidades culturais, nos aspectos que diz respeito ao pertencimento a culturas étnicas, raciais, lingüísticas, religiosas e, acima de tudo, nacionais. E faz isso com reflexões suas e embasamento dos mais diversos teóricos da sociologia e de outras áreas. 
O terceiro capítulo é voltado para a questão de como o sujeito fragmentado é colocado em termso de suas identidades culturais. O sociólogo afirma que as culturas nacionais em que nascemos se constituem em uma das principais fontes de identidade cultural e esta é formada e transformada no interior da representação; que por sua vez é demonstrada por meio da lealdade e da identificação que eram dadas à tribos, ao povo, a religião e à região ã cultura nacional nas sociedades ocidentais. 
           Dando sequência ao capítulo, Hall menciona cinco elementos de como é contada a narrativa da cultura nacional. Estes elementos são: a narrativa da nação – tal como é contada e recontada nas histórias e nas literaturas naconais, na mídia e na cultura popular-; a ênfase nas origens, na continuidade, na tradição e na intemporalidade representando a identidade primordial; a invenção da tradição sendo estas antigas ou inventadas; o mito fundacional – estória que localiza a origem da nação, do povo e de seu carácter nacional num passado distante de tempo mítico; e a idéia de povo puro/ original tentando restaurar as identidades passadas. 
          Para finalizar o capítulo, o teórico conceitua cultura nacional como uma comunidade imaginada com as memórias do passado, o desejo por viver em conjunto e a perpetuação da herança. E isso é o que unifica os membros de todas as classes , gêneros ou raças de uma mesma nação, ou seja, Stuart diz que cultura nacional deve remeter a um dispositivo discursivo que representa a diferença como unidade e identidade; pois para ele as nações modernas são, todas, híbridos culturais. 
No quarto capítulo Stuart começa definindo globalização e diz que suas principais consequências em relação as identidades culturais são três: a desintegração das identidades culturais, o reforçamento das identidades locais e o surgimento de identidades híbridas. 
               O teórico afirma que o tempo e o espaço são também as coordenadas básicas de todos os sistemas de representação; e que diferentes épocas culturais tem diferentes formas de combinar as coordenadas espaço-tempo que por consequência moldam e remoldam os efeitos simbólicos de como as identidades são localizadas e representadas. 
          Hall, por fim, diz que os processos de globalização enfraquecem e salopam as formas nacionais de identidade cultural; pois estas começam a deslocar e , algumas vezes, apagar as identidades nacionais. E, segundo o autor, o principal responsável para que isso aconteça são os fluxos culturais e o consumismo global que criam possibilidades de identidades partilhadas tornando difícil conservar as identidades intactas que são enfraquecidas pela infiltração cultural. Infiltração esta que resume as identidades nacionais a uma língua franca internacional ou moeda global em que todas as identidades podem ser traduzidas, fenômeno conhecido como homogênização cultural, explica o sociólogo. 
           O capítulo cinco relata com exemplos as contratendências principais da homogenização das identidades nacionais: a diferença na articulação entre o global e o local, a desigual distribuição da globalização pelo mundo e a descoberta para saber sua principal afetação. 
Hall afirma que há sociedades que dominam as redes globais e que delas dependem a proliferação das escolhas de identidades no sistema global e nas periferias. Ele também ratifica que a globalização está tendo efeitos em toda parte tanto no Ocidente quanto na periferia, embora esta última seja num ritmo mais lento e desigual. 
            O autor também define três caracteríscas da homogenização das ideologias das identidades globais: a globalização que caminha em paralelo com um reforçamento das identidades locais; a globalização como um processo desigual e que tem sua própria geometria de poder; e a globalização retendo alguns aspectos da dominação global Ocidental. Sendo o Ocidente o responsável por levar a pluralização de culturas nacionais e de identidades nacionais. 
          No último capítulo é cheio de exemplos de comunidades híbridas, fundamentalistas, sincretistas e ligadas a diáspora. O autor levanta a questão da oscilação entre as identidades ligadas a Tradição e a Tradução no mundo, pois ele diz que que as identidades culturais não fixas e estão em plena transição 
          Stuart conclue que as culturas híbridas constituem um dos diversos tipos de identidade distintivamente novos produzidos na era da modernidade tardia, mas que há muitos outros exemplos a serem descobertos; pois a mundo caminha para a fusão entre diferentes culturas ora pelo hibridismo e ora pelo sincretismo. 

Referências:
Hall, Stuart; Silva, Tomaz Tadeu da; Louro, Guacira Lopes.  A identidade cultural na pós-modernidade. Rio de Janeiro: DP&A, 2006.




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