Araújo Porto Alegre: do Rio Grande do Sul e do Rio de Janeiro

     Esta postagem é sobre uma resenha que tivemos que desenvolver a partir de um artigo, de nossa escolha, que tivesse relação com museus, patrimônio e o mundo contemporâneo. O artigo que escolhi é, "Araújo Porto Alegre e o patrimônio arquitetônico do Rio de Janeiro" de Nireu Oliveira Cavalcanti na revista Museologia e Patrimônio, publicado em julho de 2008.

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     Araújo Porto Alegre foi o responsável de obras fundamentais para a compreensão da arquitetura e da constituição do espaço urbano na cidade do Rio de Janeiro, Sendo que o majestoso prédio antiga sede do Cassino Fluminense e depois sede do Automóvel Clube, atualmente, passou a ser assumido pela Prefeitura do Rio de Janeiro onde se instalou a biblioteca e o centro de memória. O prédio foi projetado pelo arquiteto, pintor, poeta, teatrólogo, jornalista, professor e crítico de arte e de arquitetura, Manuel José de Araújo, conhecido por Araújo Porto Alegre, Barão de Santo Ângelo. A obra que iniciou em 1856 foi embargada logo no início, tendo continuidade, porém a passos lentos, e tendo sua inauguração apenas em 1860, sendo tombado em 1965 pelo INEPAC (órgão de proteção cultural estadual). Outro grande projeto do arquiteto foi a reforma e expansão do palácio Quinta da Boa Vista, que com a criatividade de Araújo se transformou em um prédio neoclássico, monumental e rico em detalhes ornamentais integrados à arquitetura.

Palácio Quinta da Boa Vista

     Araújo nasceu em Rio Pardo (RS) em 1806 e faleceu em Lisboa em 1879. Aos 21 anos foi para o Rio estudar pintura com Jean Baptiste Debret, após foi a Paris para aperfeiçoar seus estudos em pintura histórica e fez aulas de arquitetura com François Debret (irmão de Jean Baptiste), retornando ao Rio em 1837. Seu primeiro projeto arquitetônico foi a "Varanda", construída na atual Praça Quinze para a coroação de Dom Pedro II. Em 1841, proferiu no Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro e famosa "memória" sobre a "Antiga Escola de Pintura Fluminense", sendo a primeira vez que um intelectual brasileiro reconhecia a qualidade da arte produzida no Brasil antes da chegada da Corte portuguesa cosmopolita (1808), e também defendia o Barroco brasileiro. Em 1843 criou a revista literária e artística Minerva Brasiliense, e seis anos depois em conjunto com o poeta Antonio Gonçalves Dias e o romancista e cronista Joaquim Manoel de Macedo, a revista O Guanabara. Ele dizia que "as artes, e mui particularmente a arquitetura, têm sua linguagem, a sua prática, e alguma coisa de mais sublime do que as concepções de um oficial prático". 
        
                                   
     
Estamos no dia da coroação de Sua Majestade D. Pedro II, em 18 de julho 1840. Um edifício chamado "Varanda" - que será desmontado após a cerimônia - foi construído especialmente para a solenidade. As duas imagens de referência são, um desenho técnico meio borrado e uma pintura: 
      Em 1853, escreveu para o imperador Dom Pedro II um projeto intitulado "Sobre os meios práticos de desenvolver o gosto e a necessidade das Belas-Artes no Rio de Janeiro" (ANRJ - Memórias: cód. 807, v.14), na qual criticou a falta de apoio às artes e à arquitetura pelos governantes anteriores a Dom Pedro, e denunciou a indiferença das elites econômica e religiosa brasileiras. Sugeriu ao imperador que apoiasse a indústria extrativa do mármore e do granito brasileiros - para Porto Alegre tão ricos, variados e belos quanto os estrangeiros -  e incentivasse seu uso nas construções. Propôs a criação de uma comissão composta de seis membros, sendo dois engenheiros civis, dois pintores e dois arquitetos, para que em conjunto com a Comissão de Saúde Pública, vigiasse "toda a sorte de construções e objetos de arte que forem destinados para a vista do público". Após a entrega deste documento Dom Pedro II o nomeou diretor da instituição. Foi também vereador do Rio de Janeiro trazendo a câmara diversos projetos de revitalização de áreas, reestruturação urbana... Durante sua gestão, produziu vários textos manifestando sua preocupação com elementos brasileiros e a  adaptação da arquitetura ao clima, sendo algumas das questões:
- Que meios pode empregar já o Governo para enraizar o gosto das belas-artes no Rio de Janeiro e torná-lo em utilidade pública?
- De todas as arquiteturas derivadas da antigas, qual será a que mais convém adotar no Brasil?
- Nossas construções urbanas estão em harmonia com o nosso clima e vida doméstica? Mudarão elas na sua disposição interior depois da extinção da escravatura, e no caso contrário quais serão as introduções úteis que se devem adotar desde já para que se tornem mais belas, cômodas e sanitárias?
- O que tem mais concorrido para o atraso da arquitetura, as leis do nosso país e educação dos nossos homens de Estado, ou a falta de gosto dos particulares?

     Porto Alegre foi um intelectual conhecedor dos desafios do seu tempo, desafios nacionais e internacionais da segunda metade do século XIX. Foi um dos responsáveis pela importância e imponência do patrimônio arquitetônico da cidade do Rio de Janeiro, um patrimônio marcado pela expressão, riqueza e diversidade. Um visionário de sua época que lutava para a cidade linda e maravilhosa ficar mais cheia de graça.


Referências:




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